CRÔNICA SÉRIE VISAO Universo desencantado


Vamos hastear a flâmula preta do luto e da tristeza e entoar um hino à desilusão, pois, hoje e todo dia, é dia de celebrar a vida, a vida de agruras deste mundo de lutas e adversidades em que vivemos. Pois, vivemos os tempos do desencanto e das dificuldades, da decadência e das amarguras.
Neste dia marchemos imponentes e orgulhosos reverenciando o bom trabalho que executamos em militar contra a esperança e a alegria, tornando a vida difícil. Ao som de O tempo não para de Cazuza, entoemos nossa metralhadora cheia de magoas e Cansado de correr na direção contrária sem pódio de chegada ou beijo de namorada, cantemos alto o refrão: Minha piscina está cheia de ratos Minhas idéias não correspondem aos fatos O tempo não para. --- Mas um dia tem que parar!
Nosso mundo contemporâneo está corrupto e corrompido, vivemos numa sociedade decadente, egoísta e que perdeu o respeito a todos os princípios. Uma sociedade amoral e imoral. Ainda que todo dia sejamos doutrinados, numa lobotomia a acreditar num mundo fantástico onde se prega um positivismo avesso a realidade cotidiana, em que toda crença e retórica se apóiam na hipocrisia de que se deve ter bom ânimo, fé, esperança e amor. Mas a verdade é que a fé e a esperança são passageiros em um barco à deriva no mar da desconfiança e da descrença, um barco sem comandante, sem rumo e sem porto certo onde ancorar. O amor que prevalece é um amor baseado no interesse, um sentimento mesquinho e fiel somente ao que lhe traz prazer e dura somente o pouco tempo que o tesão e a satisfação lhe proporcionar. O bom ânimo, que é a vontade de viver, sonhar e vencer, virou ouro e deve ser garimpado diariamente até ser encontrado, nem que seja uma pequena pedra.  
Vivemos num mundo em constante guerra, conflitos de todos os tipos. Lutando para sobrevivermos numa grande selva. Nesse universo árduo somos responsáveis por nós mesmos e devemos diariamente buscar refúgio, armas e formas para combater o inimigo invisível que nos assola, numa luta por suportar e superar cada dia. Assim, devemos nos intrincherrar em algum abrigo seguro que nos proteja dos fogos e ataques inimigos.
Nesse holocausto da nossa vida real façamos nosso abrigo antidesgraça, antitristeza, antitragédia, antidor. Façamos de nossa casa um refúgio onde armazenemos o máximo de ânimo e estímulo para suportar o cotidiano, estoquemos muitas de caixas de paz e tranquilidade para fazermos uso diariamente e economizemos toda dose de amor puro e verdadeiro que pudermos para termos sempre esse remédio anti-infelidade a mão.
Na guerra selvagem e apocalíptica do nosso mundo contemporâneo somos forasteiros em terra estranha, somos soldados destemidos em combate contra inimigos invisíveis e mais poderosos e somos agricultores cultivando felicidade numa terra árida, assolada ora pelo sol escaldante da desilusão ora inundado por chuvas torrentes de tristeza.
Por isso não é de se admirar que hoje assitamos idosos abandonados em enfermarias, asilos ou esquecidos em casa pelos filhos que puseram no mundo. Que todos os dias saibamos que crianças são abortadas antes de terem direito a vida ou simplesmente deixadas em lixeiras ou banheiros públicos e ainda, que mortes e assassinatos sejam palavras comuns na nossa rotina diária, nos jornais, na televisão ou internet, como anúncios de propaganda e que vivamos torcendo para não sermos as próximas vítimas nessa roleta russa da vida, pois tragédias se tornaram modismos que vêm e voltam a cada temporada.
Esse é o nosso mundo contemporâneo, crua verdade da nossa realidade falida, universo perdido e vida selvagem. Universo que perdeu todo encanto. O que nos resta é uma vida de luta e de busca. Luta para suportar as dificuldades, superar as adversidades e sobreviver no tempo que nos é permitido. Buscar conseguir paz, tranquilidade e se posíivel ainda ser feliz!
  
             
Alex Gomes
25 abril 2012

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